Mais bombas

Recentemente postei aqui alguns links para discussões e posts relativos ao futuro do ColdFusion (de tabela o JRun) e participei de algumas discussões com amigos, incluindo alguns de fora do país e que estão mais próximos à Macromedia.

Depois de ler um pouco e refletir sobre o assunto, deixarei aqui algumas impressões/observações e muitas perguntas sobre esta questão.

Alguns dizem que a Macromedia está começando a abandonar o lado back-end que recentemente entrou, com a aquisição da Allaire há três anos. Argumentam que a adoção do JRun e do novo ColdFusion MX consistem(iam) numa estratégia de “passagem” para tornar o mundo obscuro e difícil do back-end (Java, .Net e outros nomões pesados) um pouco mais claro para seres normais e preocupados apenas com a camada de apresentação (front-end), o que sempre foi o forte da Macromedia (Flash e Dreamweaver que o digam). De fato, se você parar para pensar, pode se perguntar: por quê raios a Macromedia, que sempre fez softwares para webdesign e apresentação (front-end), ia se meter na difícil tarefa de construir servidores de aplicação/back-end Java, tais como o JRun e o ColdFusion? O que ela está querendo com isso? Atacar e competir com gigantes já bastante consolidados nesta área tais como a IBM (WebSphere) e o Apache Group com o TomCat? Mudar completamente o seu core business, num intervalo de dois, três anos? Estaria a Macromedia perdendo o rumo de seu negócio, arriscando dividir seus esforços em duas áreas distintas?


Sem dúvida esta é uma face da história bastante compreensível, e se pararmos para pensar, é totalmente viável e racional. Nos faz pensar no quê a Macromedia está tramando ou querendo com essa divisão (ou seria união?) de esforços (back e front-end). Porém a mesma pergunta feita na página anterior, pode ser usada para se enxergar a outra face da história. Adicionaremos apenas alguns temperos:

Por quê raios a Macromedia gastou tanto tempo, tanto dinheiro? – o CFMX foi o software que Macromedia mais botou dinheiro em toda a sua história – e tantos esforços para fazer destes softwares apenas uma “passagem”?

Não consigo crer que a Macromedia esteja sendo dirigida por profissionais loucos pelo perigo, que decidiram arriscar tudo (e gastar tanto) numa estratégia de alto risco. A empresa é notória por seus produtos de qualidade e mesmo no auge da histeria pontocom e do boom da web, manteve-se firme e inteira, com um plano de negócios bem sólido que, com a saída da empresa do vermelho no último trimestre (Q4) de 2002, mostrou-se acertado. Estaria a Macromedia promovendo um verdadeiro turnover na sua atuação prevendo, num futuro breve, a camada de apresentação intimamente ligada à camada lógica e de aplicação?

Sem dúvida existiam caminhos muito mais fáceis e baratos para viabilizar o conceito de RIA, a começar com a eliminação do JRun e a adoção do TomCat (open source) como servidor J2EE por trás do ColdFusion “stand-alone” e o suporte aos demais players do mercado (IBM WS, Bea, etc). Ou ainda, a eliminação do ColdFusion e a adoção de uma outra tecnologia (Perl?!) ou, de maneira mais inteligente, suporte à QUALQUER tecnologia back-end. Teoricamente o conceito de RIA, galinha dos ovos de ouro da Macromedia e norteador de todo e qualquer esforço dentro da empresa, despreza QUAL servidor/solução de back-end você pretende usar. Você poderia ter uma aplicação RIA rodando sob .Net, PHP, Java e assim por diante, o Flash Communication Server e iniciativas similares estão aí justamente para isso.

Por que a Macromedia insiste em apoiar e investir no JRun (mais especificamente no ColdFusion), de forma literal? A nova versão do CFMX (RedSky), muitíssimo melhorada e turbinada, está para sair nos próximos dias. Por que também insiste em fazê-lo de forma oficial? Todos os funcionários da Macromedia, de community managers à engenheiros, são enfáticos em dizer que a Macromedia não tem planos de abandonar estas iniciativas. Seria mais fácil omitir informação sutilmente, não se pronunciar e abster-se de qualquer comentário (o famoso João sem braço, “não sei” e “não comentamos” etc), porém eles não estão fazendo isso, pelo contrário. Fiquei sabendo hoje, conversando com o Frutig, que o MAX 2003 dará bastante enfoque ao ColdFusion e iniciativas “back-end” da MM, o que pode ser confirmado aqui (clique nos dias específicos).

Estaria a Macromedia tornando-se uma empresa com atuação nas duas frentes de batalha, front e back-end? Estaria a Macromedia colocando os carros na frente dos burros? Mesclar e oferecer tanto as soluções de front e back-end sempre foi uma coisa feita com competência (alguns questionam isso) apenas por gigantes endinheirados como Microsoft, que oferecem soluções prontas dos pés à cabeça para tudo. A Macromedia está disposta/pretende fazer o mesmo com o conceito de RIA com o ColdFusion/JRun/Flash/Breeze e todos os seus produtos? Seria apenas uma passagem, dispendiosa, mas ainda sim temporária?

Tendo acreditar na primeira hipótese. Tendo a acreditar que a Macromedia, e o mercado como um todo, está mudando. Com a “divisão do mundo” em Java e .Net, a Macromedia é uma das muitas empresas que estão remando para uma das margens, apoiando o Java e tornando-o mais fácil e popular para nós, seres mortais que dormem à noite. Para fazer isso, é necessário oferecer softwares e soluções “à la Macromedia”: fáceis e descomplicadas, para suprir os dois lados (e por que não as duas margens também?). Hoje temos o Flash no front-end e o ColdFusion no back-end. O que virá amanhã? O misterioso Royale talvez nos responda muitas perguntas, mas por enquanto tudo é cercado de mistério… De uma coisa eu sei: a Macromedia costumeiramente sabe o que faz, por isso vou dormir tranquilo.

O que você pensa a respeito?


3 Comments on “Mais bombas”

  1. Muito interessante suas colocações Alex. Não se meu comentário vai contribuir muito ao que vc já expôs, mas fica aqui minha inquietação: até que ponto valhe a pena ficarmos nessas incertezas e inseguranças de uma linguagem proprietária!? Sou um aficcionado por ColdFusion, desde o meu primeiro encontro com ele (que foi rescente hehe já na versão 5!), e tenho feito esforços sobrehumanos aqui em Londrina para divulgá-lo (e saliente-se bem aqui, sem ganhar nada com essa propaganda!). A pergunta surge, e que acredito ser muito mais inquietante: Até que ponto valhe, para nós desenvolvedores, insistirmos no CFMX? Será que seríamos traídos assim pela MM? Bem, acredito, junto com vc Alex, que a MM não faria tal coisa, e não por amor ou complacência para conosco Aficcionados pelo CF! Mas sim, pela conclusão que podemos tirar dos altos investimentos que ela vem fazendo no CF! Enfim, vida longa ao CF…. a despeito de qq que seja as intenções da MM!!!

    Abraços

  2. Alex Hubner disse:

    Salve Vicente! Obrigado pelos comentários. Há de se esclarecer uma coisa: a linguagem CFML NÃO é proprietária, a Macromedia não cobra nenhum royaltie se você desenvolver e vender uma solução em CFML ou mesmo se você quiser criar o seu próprio servidor ColdFusion. É exatamente isso que a NewAtlanta, com o BlueDragon faz. Dê uma lida neste post (e comentários que se seguem) no blog do Forta, onde se discute essa e outras coisas:

    http://www.forta.com/blog/index.cfm?mode=d&day=25&month=6&year=2003

  3. Claro Alex, a linguagem não é proprietária, posso ter me expressado mal no meu comentário acima… mas fazia referência ao CFServer da MM heehhe. Bem não posso comentar sobre o Blue Dragon, pois nunca fiz nenhum teste nele… quem sabe não seria uma saida…. mas acredito que a MM não abandonaria ao CFServer assim tão fácil… ou melhor eu ainda acredito nisso, e acho que vc tb pelas colocações que faz no seu post (principalmente na parte final!)!

    Enfim, acredito que sempre ficaremos nessas incertezas, mesmo pq isso acaba gerando um certo Marketing para a MM…. mas confesso que são considerações que devemos levar em conta e, principalmente, nos mantermos atentos aos movimentos da MM para que a qualquer sinal de abandono do barco não seja uma grande surpresa!

    Falow